sexta-feira, 23 de outubro de 2009
O que você vai ser quando crescer?
O ano era 1996 e a velha pergunta sobre o que eu queria ser "quando ficasse grande", já havia sido respondida 7 anos antes, na maturidade de meus 12 anos: "Quero ser polícia como o meu pai."
Passei 21 anos de minha vida vendo o meu pai acordando às 5h30min e se preparando para ir ao quartel. Na verdade, a preparação começava na noite anterior com minha mãe engomando a farda e fixando os brevês e insígnias. Depois da Alvorada, o cheiro do pós barba invadia a casa denunciando que já era hora de sair para trabalhar. Como eu achava bonita aquela farda..., aquela preparação. Lo Gran Final acontecia quando o Soldado Evaniel parava o Gol quadradinho(o mais moderno de todos os carros e que cheirava a tuti frutti), na frente de casa e chamava: Tenente Josemar!! Tenente, já cheguei! Naquela hora o que eu mais queria era ser Tenente..., Tenente Geórgia.
Me imaginava fardada, cheia de armas, facas e toda qualidade de bombas (eu tinha certeza que o Rambo era Tenente..rs), saindo pra combater a criminalidade, digo Paulo Queixada.
E assim acontecia todas as manhãs.
Como eu contei vantagem na escola. Todo dia eu tinha uma história extraordinária: Um dia meu pai havia prendido sozinho 8 pessoas muito perigosas,no outro dia ele havia achado um corpo boiando na praia, no outro..., sei lá... no outro ele havia sido ,como sempre, um herói. Acho que é assim que os filhos vêem os pais... heróis!
E quando ele aparecia na televisão, naquele programa onde o apresentador fazia um quadrado com as mãos dizendo: Vai ver o sol nascer quadrado!!!... nossa! Ligava pra todos os meus amigos para eles assistirem e quando chegava na escola ainda tripudiava: Eu não disse que meu pai sairia na televisão. eu disse, eu disse!!!(risos)
Mas o tempo passa rápido. Chegou o ano de 1996 e com ele o concurso para Oficial da Polícia Militar. O que você quer ser quando crescer? Quero ser polícia como meu pai.
Fiz o concurso, passei 3 anos na Academia de Polícia Cel Milton Freire de Andrade e em 20 de dezembro de 2000 fui declarada Aspirante. Das mãos do meu pai, hoje coronel da reserva, recebi a espada que o acompanhou 30 anos de uma vida dedicada a Polícia Militar. Conselhos? Só recebi um: Você tem dois ouvidos e uma boca, use-os com sabedoria!
O sonho da menina que queria ser Tenente se tornou realidade. A história se repete! Dona Fátima, agora mãe e não esposa, toda noite prepara minha farda e a cada manhã, o meu herói renasce em mim. Agora, os Soldados Alcebíades ou Ijailson, param o carro (não tão moderno como o Gol quadradinho) no portão de casa e gritam: Tenente Geórgia, Tenente, já cheguei! E lá vou eu enfrentar o dia. Não prendi nenhum bandido, não encontrei nenhum corpo boiando...e não haveria de encontrar. O Herói havia ficado em casa!
De meu pai herdei o amor pela Polícia Militar... o amor de uma época onde as pessoas vinham para Polícia para servi-la e a encarava como forma de vida. Ainda não tenho filhos, mas posso te responder o que eu gostaria de ouvir ao fazer a velha pergunta...O que você vai ser quando crescer? Quero ser polícia como minha mãe... e meu avô.
Bjus
Fiquem com Deus.
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Bonito testemunho.
ResponderExcluirAcredito que somos mais felizes quando fazemos o que gostamos.
Tenente Geórgia,
ResponderExcluirSou Tenente-Coronel da FAB e tenho um filho na Academia da Força Aérea (AFA). Não consigo expressar minha alegria no dia que o meu filho disse que queria ser Oficial da Aeronáutica.
Tenha a certeza de que o amor que seu pai tem pela PM renasce a cada manhã quando ele a ver vestida com a farda que o acompanhou 30 anos.
Obrigada pelo relato. Trouxe-me boas lembranças.
Olá Geórgia.
ResponderExcluirAcompanhei um pouco de sua história, afinal conheci seu pai (um grande Oficial e Comandante, competente e querido por toda tropa)e lembro de quando você estava entrando na Polícia - fiz parte da comissão responsável pelo concurso.
Grande abraço
Pires
Fala, geórgia! Fui seu aluno no CFSD 2001, turma "c", e lembro de suas aulas bem-humoradas.
ResponderExcluirLembro que uma pergunta parecida nos foi feita, e a maioria respondeu que estava ali apenas por falta de emprego melhor.
Hoje, a mesmma maioria continua nas fileiras da Polícia Militar, mas agora porque AMA o que faz, o dinheiro é a menor das recompensas.
Passei quase sete anos assim, fazendo o melhor que pude, e às vezes até o que não pude.
Hoje sou escrivão da Polícia Civil, mas sempre haverá lugar no coração para os amigos feitos durante a longa jornada.
VIGILANTIS SEMPER!
Adorei Capitã Geórgia. Lembrou-me essa linda história da nossa amada Rafaela Beatriz, que diz que quer ser policial veterinária da nossa amada PM. E no nosso caso, são dois exemplos...
ResponderExcluirValeu pelo lindo texto e peço permissão para reproduzí-lo no nosso blog, claro, citando a fonte...